Este resumo da pesquisa do Observatório da Prostituição sobre o efeito da Rio2016 no mercado de sexo no Rio de Janeiro foi escrito por Alex Besser e publicado no RioonWatch.org. Tradução por Marina Hennies. Clique aqui para acessar o press release em Português. Click here to read this post in English.
O Observatório da Prostituição no Rio de Janeiro lançou seu relatório preliminar sobre o efeito das Olimpíadas de 2016 no Rio sobre a indústria do sexo na cidade. A organização é composta por professores, pesquisadores e estudantes de várias das principais universidades do Rio de Janeiro, e tem pesquisado a prostituição na cidade e tentado “ampliar o espaço público e político para debates sobre o trabalho do sexo” para ajudar a “reconhecer a prostituição como forma de trabalho legítimo”.
O Observatório da Prostituição e vários outros grupos de defesa ficaram preocupados com as possibilidades de abusos dos direitos humanos semelhantes àqueles durante a Copa do Mundo da FIFA em 2014. O relatório de 2014 mencionou várias operações policiais e políticas públicas que resultaram em detenções e violações dos direitos humanos dos profissionais do sexo no Rio. Com os Jogos Olímpicos, a organização procurou analisar como as políticas relacionadas às Olimpíadas estavam mudando as vidas e as atividades de trabalho dos profissionais do sexo no Rio de Janeiro.
Impacto nos mercados do sexo
O Observatório da Prostituição verificou que as políticas implementadas mesmo antes do início dos Jogos já modificaram o panorama da indústria do sexo no Rio, empurrando muitos profissionais para regiões diferentes da cidade. Eles constataram que muitas das preocupações apontadas pela mídia antes e durante as Olimpíadas, como a possibilidade de um aumento no tráfico humano e na exploração sexual, acabaram não acontecendo.
O relatório constatou que, assim como ocorreu durante a Copa do Mundo, o comércio sexual no Rio diminuiu durante o megaevento. No decorrer da Copa do Mundo, isto deveu-se principalmente ao grande número de feriados, que fecharam o comércio no Centro da cidade–a área com a maior concentração de pontos de profissionais do sexo–e forçaram mudanças nas rotinas diárias dos clientes.
No caso dos Jogos Olímpicos, outro fator importante foi a crise econômica e política no Brasil. Cerca de oito meses antes da abertura das Olimpíadas, a demanda por profissionais do sexo já era extremamente baixa, ao mesmo tempo que mais mulheres estavam vendendo sexo. Na maioria dos locais, não se viu aumento significativo na demanda por sexo pago durante os meses de agosto e setembro de 2016, e a maioria dos pontos, na verdade, informou uma queda tanto no número de clientes que vieram, como no número de homens dispostos a pagar por sexo.
O relatório encontrou somente um ponto, situado perto do Parque Olímpico na Barra da Tijuca, onde se verificou um crescimento consistente na demanda por serviços sexuais durante os Jogos. No entanto, em muitos outros pontos na mesma Zona Oeste não houve aumento do comércio. Na Praça Mauá, que sediou muitos eventos turísticos juntamente com as Olimpíadas, alguns pontos informaram que houve aumentos significativos de clientes. Em todos os casos, a demografia dos clientes permaneceu a mesma: principalmente homens brasileiros locais na maioria das áreas, e marinheiros e tripulantes dos navios de cruzeiro na Região do Porto.
Ameaças aos profissionais
O relatório constatou que houve menos violência e repressão dirigida aos profissionais do sexo no Rio de Janeiro no período em torno dos Jogos Olímpicos do que houve antes da Copa do Mundo. Houve relatos de mulheres que foram retiradas das ruas ao redor do Maracanã pela polícia. No entanto, é difícil distinguir se isso foi relacionado à sua profissão ou uma medida geral de segurança dirigida a todos os não-espectadores. Houve vários relatos de violência contra profissionais do sexo trans em Copacabana, na Zona Sul, principalmente pelo pessoal de segurança privada que patrulhava as ruas ilegalmente. Os pesquisadores testemunharam casos de “pornofobia” ou “whoreophobia” (fobia das prostitutas) durante as Olimpíadas, quando os profissionais do sexo sofreram violência física e simbólica por parte de mulheres brasileiras que não trabalham com sexo e de turistas do sexo masculino.
Houve vários casos de operações policiais contra agências e pontos com a finalidade de evitar a exploração sexual. É difícil avaliar a legitimidade dos motivos alegados, pois isso é frequentemente usado como desculpa para esforços anti-prostituição. O estudo observou que uma série de operações contra a prostituição nas ruas, de fato, revelou a presença de três meninas menores trabalhando na Barra da Tijuca/Recreio. Os profissionais adultos disseram que a polícia, que estava “somente atrás de menores”, deixou-os em paz.
De um modo geral, o estudo verificou que as Olimpíadas foram menos disruptivas quanto ao trabalho do sexo no Rio de Janeiro do que a Copa do Mundo. Com a maior distribuição geográfica dos Jogos em comparação com a Copa do Mundo, observou-se que o comércio sexual foi mais disperso pela cidade do que de costume. O Observatório da Prostituição ainda está analisando os dados para ver o quanto do impacto negativo sobre o trabalho do sexo ocorreu devido às Olimpíadas e o quanto foi causado simplesmente pelas más condições econômicas atuais do Rio.